domingo, 31 de março de 2013

Poesia e arte


Segunda canção para os dedos
Tua mão na minha
é salto qualitativo
infinitamente maior
que o abraçar de corpos
amanhã
no instante racional
em que decidirmos o assunto.

Tudo começou
no toque dos dedos
na penumbra
sob o fundo musical
dos teus olhos brilhando,
quando tudo era fácil
de deixar de ser.

Agora
vem a confiança
e a audácia
a excessiva confiança
em que os lugares comuns mais grosseiros
afastarão os olhos,
as confidências
e os dedos.

No intervalo
terá havido amor-consulta
e amor-certeza, gravidez e enjoo,
livro de gênesis
sem o espírito das águas,
mas tudo acabará
no apocalipse
dos dedos afastados
e perdidos,
na datilografia perfeita
e sem borracha
do amor desfeito

Há um ritmo de lembrança
na tristeza emigrante
dos dedos que se afastam.

José Leão de Carvalho